Observação: Eu uso leitores (ao invés de leitóries, a versão que associo com o conjunto e/elu/e, que uso como neutro) no caso de "programas que leem coisas" porque estou basicamente abreviando "programas leitores de alguma coisa". Portanto, como uso o/ele/o para programa, uso o/ele/o para leitor dentro deste contexto. Também uso navegadores para falar de programas que navegam na internet ao invés de navegadóries pelo mesmo motivo.
O que é e para que serve
A história do RSS (ou do Atom, um formato similar que serve para a mesma coisa) não é algo que particularmente me interessa aqui. Também não saberia explicar como tudo isso funciona. Garanto que vários blogs de tecnologia já possuem tais informações, porém.
O que é relevante de dizer aqui é isso:
RSS é uma maneira de agregar conteúdo que existe desde antes de linhas do tempo serem popularizadas.
Por exemplo, imagine que alguém descobre um site de notícias do qual gosta. A pessoa então começa a entrar nele todo dia, para saber o que há de novo.
Então imagine que uma pessoa próxima àquela pessoa tem um blog e ela se interessa em acompanhar seu conteúdo. A pessoa também passa a visitar o blog com certa frequência.
O blog então forma uma lista de blogs recomendados, e a pessoa se interessa em, digamos, uns 5 deles. Isso é muita coisa pra lembrar, mas com a função de sites favoritos do navegador, é possível salvar todos eles e visitá-los de vez em quando.
Um dos blogs recomenda uma webcomic - uma história em quadrinhos atualizada página a página em seu site - e depois de terminar o que já foi escrito e querer ver mais, isso já é outra coisa pra ir acompanhando.
O tempo passa e cada vez mais links vão acumulando. Alguns blogs podem ficar inativos, mas ainda há postagem neles a cada semestre, ou mesmo a cada ano, então ainda vale a pena checar. Mais sites de notícias acabam sendo interessantes de acompanhar, ou pelos assuntos diferentes ou para cobrir notícias de regiões diferentes. Aquela primeira webcomic não atualiza faz um tempo, mas a pessoa também acompanha outras três, além de algumas histórias de ficção postadas em uma plataforma específica pra isso.
Uma solução mais fácil do que ficar entrando em cada página no navegador (ou do que manter abas prontas para cada coisa) é usar um leitor de RSS. Ao colocar cada feed (um endereço especial que contém um código pronto que lê as últimas atualizações da página) em um leitor (um programa ou site que agrega feeds para que seja possível acompanhar as atualizações e que procura automaticamente por elas), é possível só abrir uma única página ou um único programa e receber as atualizações de tudo, se/quando elas aparecerem.
A internet corporativa quer acabar com isso. Porque não é lucrativo para grandes empresas.
Para o Twitter e o Instagram (sendo que este é propriedade do Facebook), é mais vantajoso que você siga atualizações de notícias/blogs/HQs/etc. dentro de tais sites/aplicativos, onde podem colocar também anúncios, além de coletar informações sobre o que você está vendo e como está vendo e vendê-las para terceires.
Para o Facebook, é mais vantajoso que outras pessoas sigam dependendo de postagens impulsionadas, e, para isso, precisam haver usuáries vendo tais postagens. Também querem coletar informações sobre você e o que você gosta, para conseguir manipular linhas do tempo de forma que você fique mais tempo usando o site.
Para o YouTube, é mais vantajoso que você veja o conteúdo que o algoritmo recomenda, feito para ser cada vez mais interessante e cativante, mas sempre dentro do próprio YouTube, para que possam passar seus anúncios ou convencer você a pagar para não ter mais que vê-los.
Com a exceção do YouTube - que deixa esta informação bem escondida - nenhum destes sites possui RSS/Atom/algum formato similar. É possível rodar programas que veem o conteúdo e o transformam nesses tipos de feeds, mas eles muitas vezes são bloqueados quando descobertos.
E, cada vez mais, esses sites querem que você tenha uma conta neles, e forneça o maior número de informações pessoais reais que pareça fazer sentido de exigir. Porque, novamente, querem vender suas informações, para então conseguir mandar anúncios que acham convincentes a você. Aliás, é possível que plataformas acumulem e vendam informações mesmo que você não tenha conta.
Essas empresas, então, vendem a ideia de que "RSS morreu", como justificativa para não oferecerem feeds que possam ser lidos em outros lugares, e assim esperam que empresas menores ou que pessoas com sites/blogs/etc. pessoais deixem também de usar RSS para mandar atualizações e então façam ao invés disso postagens no Twitter ou no Facebook ou em algum outro desses lugares.
Mas RSS/Atom não acabou.
Wordpress, Blogger, Tumblr, Dreamwidth, Mastodon e várias plataformas de podcast ainda usam RSS/Atom. E vários outros tipos de páginas também.
Caso o resto da postagem não dê motivos suficientes para ao menos tentar usar RSS, ofereço outro: o peso reduzido das postagens carregadas por RSS.
Se uma postagem em si só contém imagens e textos, é só isso que carrego no meu leitor de RSS. Não carrego fontes, o layout da página, qualquer javascript que tenha nela, ou pseudojanelas pedindo para fazer conta ou qualquer coisa assim. Além disso, vários leitores baixam o conteúdo de tempos em tempos sem que seja necessário "mandar ir atrás", o que significa que não há nem a espera para baixar o conteúdo da página.
Eu sinceramente não sei dizer o quanto servidores conseguem coletar informações de alguém usando um leitor de RSS. Porém, tenho quase certeza que cookies não estão sendo salvos. E certeza de que se não tenho uma conta, é informação a menos que estou dando em relação a fazer uma conta no próprio site e seguir outras contas lá dentro.
Tem uma questão, porém, de que nem todos os sites mandam todo o conteúdo de suas postagens. Alguns só mandam o título e um trecho inicial, e daí para ver detalhes é necessário abrir o link no navegador. Também percebo que algumas respostas no Tumblr ficam cortadas sem nenhum aviso. Mas estes são casos relativamente raros.
Como usar
Leitores
Sinceramente, não tenho experiência com muitos leitores.
De comerciais, conheço The Old Reader e Feedly; neles, você tem uma conta e recursos limitados (ainda que isso possa não incomodar quem não quer acompanhar tantos feeds), e pode pagar caso queira uma experiência mais completa. Não faço ideia de como são em relação à privacidade, mas são opções para quem prefere clientes mais fáceis de usar e com mais portabilidade entre dispositivos.
Os que uso são Thunderbird no computador e Feeder no celular. (Percebi também que existe outro leitor chamado Feeder que é pago e tem pra desktop, mas o que uso é o aplicativo de código aberto para Android.)
Embora eu sinta falta de poder só rolar a barra e ler o conteúdo inteiro ao invés de clicar em cada coisa, gosto bastante da minha configuração atual. Isso porque:
- O Thunderbird grava as postagens no meu disco rígido, então mesmo se alguém trocar de endereço ou deletar sua conta, suas postagens estão arquivadas. Isso é bem importante pra mim como alguém que muitas vezes precisa ir atrás da origem ou do significado de algum termo NHINCQ+, por exemplo.
- O Feeder, pelo contrário, deleta tudo que eu clico pra ler, além de ter um botão de limpar tudo em certo feed. Isso é útil para quando já li coisas no Thunderbird, e não quero ocupar espaço com elas no celular.
Além disso, nenhum desses requer que eu faça uma conta, então não tenho como esquecer a senha ou ter que logar de novo. O máximo que pode acontecer é eu perder meus dados e ter que refazer meus feeds caso um desses pare de funcionar. Ainda assim, é possível ter backups, já que dá pra exportar todos os feeds como um arquivo só que pode ser aberto por outro programa ou por outra versão do mesmo programa.
Mesmo assim, existem outras opções. RSSOwl parece oferecer uma experiência parecida com a do Thunderbird. Tiny Tiny RSS é uma opção para navegadores e aplicativos que pode ser instalada em um servidor, e quem não tem um servidor próprio ou não quer ter que lidar com isso pode fazer conta em um servidor já existente, como Nixnet e Snopyta.
Feeds embutidos
Dependendo do leitor, é possível que:
- O endereço do feed tenha que ser exato;
- O endereço do feed não precise ser exato, porque o software detecta o feed associado ao endereço colocado.
No primeiro caso, isso significa que só colocar uma URL qualquer, como https://amplifi.casa/~/Asterismos, vai gerar algum erro ou feed sem nada. Neste caso, é necessário procurar o link do feed, que é https://amplifi.casa/~/Asterismos/atom.xml, para que o software consiga "puxar" postagens novas.
No segundo caso, daria pra colocar uma URL como https://amplifi.casa/~/Asterismos, porque aí o software vai procurar no código fonte e achar o link https://amplifi.casa/~/Asterismos/atom.xml automaticamente para adicioná-lo à sua lista de feeds.
O que quero fazer aqui é ensinar a como conseguir o endereço direto do feed.
Muitos blogs e sites similares já possuem acesso fácil a seus feeds. É só tentar localizar na página algo como RSS, Atom, ou talvez algo como Inscrever/Inscrições/Inscreva-se ou Feed, ou uma imagem como estas, e copiar o link.
Outros não disponibilizam isso tão facilmente. Para facilitar, vou deixar aqui uma lista de onde serviços comuns colocam seus feeds RSS ou Atom:
- YouTube: https://www.youtube.com/feeds/videos.xml?channel_id=(ID do canal) | Exemplo: https://www.youtube.com/feeds/videos.xml?channel_id=UCRAqYSJPpu0C14FKOQvIMwA
- Wordpress: (endereço)/feed | Exemplo: http://ajudanhincq.wordpress.com/feed
- Tumblr: (endereço)/rss | Exemplo: https://variant-archive.tumblr.com/rss
- Blogger: (endereço)/feeds/posts/default | Exemplo: https://charcharcharace.blogspot.com/feeds/posts/default
- Dreamwidth: (endereço)/data/atom | Exemplo: https://cobaltdrgn.dreamwidth.org/data/atom
- Plume: (endereço)/atom.xml | Exemplo: https://amplifi.casa/~/Asterismos/atom.xml
- WriteFreely: (endereço)/feed | Exemplo: https://write.as/lrr/feed
- Mastodon: (endereço).rss | Exemplo: https://colorid.es/@Aster.rss
(Nenhum feed vai mostrar qualquer postagem privada ou limitada a certes usuáries; feeds apenas agregam postagens públicas)
Isso funciona mesmo que o endereço não seja algo como "usuárie.nome-do-site.com". Por exemplo, queerascat.com tem um endereço independente, mas é um blog de Wordpress; portanto, seu feed está em http://queerascat.com/feed.
Caso o feed não esteja em nenhum dos endereços, dá pra tentar achar um feed no código fonte. É possível clicar com o botão direito em uma página ou ir nas opções do navegador e procurar alguma opção de ver o código fonte, ou usar view-source:(endereço) (como em view-source:https://orientando.org/) para vê-lo.
Depois disso, use alguma função de localizar para procurar termos relacionados, como RSS, Atom ou feed. É provável que, caso haja algum feed pronto, isso ajude a achar seu endereço.
Pontes
Existem também serviços que fazem pontes de RSS, ou seja, que pegam atualizações de sites sem feeds nativos e "entregam" feeds para que dê pra seguir tais sites em leitores. Um exemplo disso se encontra aqui.
Bibliogram, uma forma de ver Instagram sem ter que se preocupar com anúncios ou coleta de informações pessoais, tem uma função de ponte embutida. O único problema é o quanto o Instagram bloqueia com frequência o acesso dessas pontes, mas a princípio, dá pra ir em um perfil aqui, aqui ou aqui (por exemplo, outras instâncias existem) e conseguir um feed no modelo (endereço da instância)/u/(nome de usuárie do Instagram)/(RSS ou Atom).xml. Os links estão disponíveis na barra lateral do Bibliogram, quando você vê um perfil.
"Mas eu não tenho interesse, preciso ligar pra isso?"
A questão é, RSS é um formato livre (no sentido de que há muitas formas de pegar conteúdo por esse modo), ainda usado por muita gente. E, como falei, grandes empresas tentam atrapalhar quem usa RSS o tempo todo para que possam cada vez mais tornar seus anúncios lucrativos e sues usuáries dependentes de ter que acessar seus sites cheios de coletas de informação e algoritmos que manipulam consumo de informações.
Se você produz podcasts, textos, imagens ou afins feites para ganhar grande alcance, e pessoas gostam do seu trabalho, considere colocar ele também em alguma plataforma que tenha acesso a RSS. Tumblr e Wordpress também são empresas capitalistas, mas ao menos oferecem opções que não obrigam alguém a ter uma conta num lugar específico para acessar ou receber atualizações relacionadas ao trabalho.
Por outro lado, considere também que blogs públicos podem não ser o melhor lugar para postar informações pessoais ou sobre suas vulnerabilidades. Afinal, é perfeitamente possível seguir atualizações de algo público sem que o site tenha como avisar que certa pessoa está fazendo isso.
Comments
June 19, 2022 11:57
@Aster Aproveito para lembrar que a rede social Fediverso Friendica tem uma função que permite seguir qualquer site ou perfil que tenha um feed RSS/ATOM