Versões distorcidas de Eva e Adão

Síntese de gêneros cognatos.

Aviso: Neste texto, eu estou falando das minhas vivências. Nem toda pessoa juxera/proxvir vai se identificar com as minhas experiências.

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“Mulher” e “Homem” sempre foram categorias que me sufocavam demais. Principalmente o meu gênero designado ao nascimento, com qual eu sempre tive brigas e ressentimentos. As restrições da cisnormatividade sempre foram algo que me impediam de sentir confortável em ser uma mulher (ou teoricamente ser uma mulher). Mesmo que eu ainda me sinta conectada com mulheridade, me identificar como uma mulher binária é a mesma coisa que negar o meu direito de respirar.

A minha relação com o gênero homem é mais falta de conexão do que ressentimento em si, mas não é como se eu me sentisse confortável em ser um homem binário também. Foi algo que eu percebi recentemente. Na real, me identificar com qualquer um dos gêneros binários soa incerto e falso, e toda vez que eu penso na possibilidade de ser ao menos parcialmente mulher ou homem, eu entro em uma crise existencial.

Eu não quero ser visto como uma mulher ou um homem.

Mas ironicamente, meus gêneros espelham os que eu rejeito tanto

Então….no momento, eu me identifico com os gêneros juxera e proxvir. O que não é realmente contraditório. Mesmo sendo relacionados, juxera e proxvir são gêneros separados dos gêneros mulher e homem. Eu com toda certeza (ao menos considerando minha vivência atual), não me identifico como mulher ou homem. Mas acontece que meus gêneros….são similares. Para exemplificar, repito o título deste texto: Meus gêneros são as versões distorcidas de mulher e homem.

O que pode soar como algo negativo, mas honestamente, pra mim é o oposto. É isso que eu senti em relação ao gênero mulher durante toda a minha vida (e ao gênero homem na adolescência). Então eu decidi abraçar essa sensação de distorção. Minhas experiências de gênero brincam com os gêneros binários. Os transformam e ultrapassam suas restrições. Me imagine em uma casa de espelhos, banalizando os gêneros binários. Ou em um plano alternativo (okay, talvez eu me identifique como altemulher/altehomem também).

Gêneros que seriam sósias, se não fossem tão extremamente distintos.

Talvez eu seja o Hyde para os gêneros binários. Quem sabe.

A experiência viabinária pode ser uma tortura constante

• Pegando a definição desse tópico no fórum do Orientando

Viabinárias: Identidades que estão próximas a um gênero binário, ainda que possam ser chamadas de não-binárias. Mulher/homem NB (muitas vezes), juxera/proxvir, etc.

Esses dias eu preenchi uma pesquisa sobre identidades multigênero elaborada por uma pessoa que eu sigo no tumblr. Fiquei empacado na primeira pergunta. Ela pedia pra você marcar sua relação com os gêneros binários. E sem surpresa alguma, as únicas opções eram: Você é mulher/homem, você é ao menos parcialmente mulher/homem ou você não tem nenhuma relação com os gêneros binários. Então basicamente, ou eu me identificava com algum dos gêneros binários/ou com os dois de alguma forma, ou não. O que é tão limitante, que chega a ser frustrante. Honestamente, como uma pessoa juxera/proxvir, eu não sei onde eu me encaixo nisso. Eu não sou mulher/homem. Não sou parcialmente mulher/homem. Mas ainda possuo uma conexão com os gêneros binários.

É levemente irritante que algumas pessoas tomem “ter uma conexão com os gêneros binários” como sinônimo de se identificar parcialmente com eles. Sei que talvez seja um conceito vago, mas ainda assim, é algo que eu gostaria que as pessoas revessem.

Parando pra pensar, eu nunca vejo muitos textos sobre experiências viabinárias, ou sobre experiências juxera/proxvir em si. É como encontrar uma agulha no palheiro. O que é estranho, porque são identidades relativamente antigas, e eu acredito que muitas pessoas iriam se identificar com os conceitos. Mas não há algo que eu possa fazer além de….falar sobre minhas experiências. Não que eu fale de um jeito explicativo ou compreensível, mas é legal tentar.

A tal da confusão

Por meus pensamentos sobre gênero em texto é difícil. E eu geralmente preciso ficar lendo sobre as experiências de outras pessoas pra poder entender as minhas, mas como não há muito “conteúdo” pros meus gêneros, então eu vou ter que trabalhar de forma solo por enquanto. Quando eu me sentir confuse sobre minha identidade de gênero novamente, eu vou voltar aqui e me autoavaliar pela milésima vez.

Talvez daqui a alguns meses eu não me identifique como juxera ou proxvir mais, mas o importante é que agora são as identidades que mais fazem sentido. E em consideração ao meu relacionamento conturbado e a similaridade com os gêneros binários, elas são as minhas melhores ferramentas.

Enfim, é isto. Muito obrigada pela atenção <3